quinta-feira, 25 de outubro de 2007

O contrário da morte - Régis Rasin


O contrário da morte

Se a morte tem um oponente, não é a vida, é o amor.

É a única coisa que pode fazer alguma diferença diante da magnitude da morte, da onipresença da morte, da longevidade da morte.


Do quê, afinal, tanto reclamamos, se temos água, pão, cobertor e afeto? Afeto, na verdade, é uma palavra soft, amor é mais contundente. Se a morte tem um oponente, não é a vida, é o amor.


É a única coisa que pode fazer alguma diferença diante da magnitude da morte, da onipresença da morte, da longevidade da morte:

Sim, porque a morte, a partir do momento que ocorre, passa a ter um período de duração infinito, e antes de virmos ao mundo ela também já existia nesta mesma infinitude de trás pra frente.

Onde estávamos antes de nascer? De certa forma, mortos também. Nossa vida é apenas uma pequena brecha de tempo entre duas ausências acachapantes. E para justificar este breve intervalo de vida e enfrentar a soberania da morte, só mesmo amando.

Tem se falado pouco de amor, virou uma coisa meio piegas, antiga. Hoje cultua-se muito mais a paixão e demais sentimentos vulcânicos, aqueles que fazem barulho, que inspiram loucuras, que causam polêmicas, que atormentam, que dilaceram, que fazem as pessoas se sentirem, ora, ora, vivas.


O filósofo disse: É melhor viver em frenesi do que na neutralidade, e tem razão, vigor é algo de que não podemos abrir mão. A questão é que nada é mais vigoroso que o amor, este sentimento que erroneamente relacionamos com comodidade e mornidão, tudo porque associamos amor ao casamento: Este sim pode vir a se tornar algo acomodado e morno.


O amor pega essa carona injustamente. Amor não é apenas o que aproxima um homem e uma mulher, dois homens ou duas mulheres. Amor envolve pais e filhos, envolve amigos, envolve uma predisposição emocional para o trabalho, para o esporte, para a gastronomia, para a arte, para a religião, para a natureza, para o autoconhecimento.

Amor é um estado de espírito que nos move constantemente, é uma energia que não se esgota, é a única coisa que faz a gente levantar de manhã todos os dias sem entregar-se para o automatismo, é o que dá algum sentido para este hiato entre duas mortes. Isto não é vulcânico? Ôh.


Nós, com nossos obstáculos infinitamente mais transponíveis do que a cordilheira, deveríamos experimentar mais deste viagra motivacional chamado amor. E azar se parecermos cafonas...

2 comentários:

Anônimo disse...

Texto de Martha Medeiros.
Depois comento....

Mr. Matt Murdock disse...

"...O amor pega essa carona injustamente. Amor não é apenas o que aproxima um homem e uma mulher, dois homens ou duas mulheres. Amor envolve pais e filhos, envolve amigos, envolve uma predisposição emocional para o trabalho, para o esporte, para a gastronomia, para a arte, para a religião, para a natureza, para o autoconhecimento...."

Concordo plenamente, o amor é mais do simplesmente um sentimento, é uma questão de vida e morte, pois sem amor, pode-se viver uma vida já morta,....

Abrcsssssss.......